terça-feira, 13 de janeiro de 2009

DUODOPA CR

De: Samuel Grossmann (samgross@terra.com.br)
Enviada: sábado, 10 de janeiro de 2009 19:00:04
Para: Hugo Engel Gutterres (hugoengel@via-rs.net)
Cc: Associação Brasil Parkinson (parkinson@parkinson.org.br); Baldoino Soares do Amaral (baldoino226@superig.com.br); marcilio (SC) santos (marciliosegundo@hotmail.com); milton.ferraz@terra.com.br (milton.ferraz@terra.com.br)
Caro Hugo
Em prosseguimento à minha correspondência, encaminho abaixo a resposta que recebi do Lab. Torrent, fabricante do DUODOPA que você está tomando.
Como vê, a falta desse produto é devida à "falta de matéria prima". Fala essa - "por coincidência" - na mesma época em que o CRONOMET sumiu do mercado.
Se eu não estou vendo "fantasmas", está-me parecendo uma manobra da MERCK, cujo objetivo não consigo vislumbrar.
Como se viu no site da Torrent, ela é uma empresa sediada na India e que está iniciando suas atividades no Brasil; não sei se ela é uma subsidiária da Merck e se adquire a matéria prima desta última. A India é um país produtor de remédios a preços mais baratos do que aqui. No momento não sei falar sobre a política de pagamento de royalties adotado por ela e sobre questões que envolvem quebra de patentes.
Quero relatar, apenas para deixar registrado, um questão que tivemos com a Merck 1986, a respeito do Sinemet. Logo após o lançamento do Plano Cruzado pelo Governo Federal em 1986, que congelou os preços das utilidades, aquele produto sumiu das farmácias, o que levou a ABP fazer barulho pela imprensa, traduzindo a gritaria dos parkinsonianos. A Merck nos alegou que a falta do remédio era devido ao aumento do consumo pelos doentes, que passaram a ter mais dinheiro no bolso, já que seus salários eram corrigidos pela URV (lembra-se?). Contestamos que, no caso dos parkinsonianos isso não era verdade, já que devem ser tomados as menores quantidades possíveis. Depois disso alegaram falta de vidros, ao que sugeri acondicionar o remédio em embalagens de plástico ("blister"). Alegaram então que deveriam estudar a estabilidade do remédio nesse tipo de embalagem plástica; ao que retruquei alegando que eles já tinham esse tipo de embalagem em outros países, como por exemplo a Argentina. Diante da falta de outros argumentos e com o passar do tempo, eles voltaram a entregar o remédio às farmácias em pequenas quantidades. A Rádio Jovem Pan fez a chamada ponte de solidariedade, entre famílias que tinham o produto sobrando e aquelas desesperadas.
Outro comportamento pouco recomendável da Merck foi quando ela introduziu no mercado brasileiro o Cronomet. Ali começou a faltar do Sinemet, que passou a ser fabricado por uma outra empresa "brasileira" PRODOME, na qual ela, Merck, não tinha ingerência. Mostrei que aquilo era uma farsa, já que aquela nova empresa - da qual a própria Merck tinha participação acionária - estava instalada no prédio pertencente à Merck; o maquinário e o prédio haviam apenas sido locados: A Merck era a fornecedora exclusiva dos insumos: e por fim, a marca Sinemet pertencia com exclusividade à constelação universal da Merck.
O Cronomet foi lançado a um preço 50% mais caro que o Sinemet, e pelo que eu ouvia, a composição de ambos é a mesma, variando apenas o processo de aglomeração das partículas do Cronomet, o que lhe dava as características de liberação lenta,
Conseguimos contornar mais essa dificuldade em nosso caminho.
Ainda mais um: A Merck alegou que a falta de matérias primas para a fabricação do Sinemet era por que a CACEX (Carteira de Comércio Exterior) do Banco do Brasil não liberava as guias de importação. Em contato com aquele órgão público no Rio, onde fui a trabalho, fui informado que as guias não haviam sido retidas, mas pedido àquela Empresa que as futuras importações fossem feitas pelo preço cotado do mercado internacional, como era do seu conhecimento; a importação a preços superiores poderia representar uma remessa disfarçada de lucros. A Merck usou a quota - não para importar as matérias primas do remédio anti-parkinsoniano - mas produtos de uso veterinário!
Pelos fatos acima relatados, você poderá imaginar que essa falta simultânea do CRONOMET e do DUOPA tem algo de estranho...
Obrigado por me permitir fazer esse desabafo, que estava preso em minha garganta há tempo.
Vamos continuar em campanha visando a regularização dos produtos, a fim de aliviar o sofrimento de nosso irmãos, todos navegantes do mesmo barco.
Fico ao seu dispor
Um abraço
Samuel

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